Cada
filho é único, tem sua personalidade, suas crenças e uma maneira de se
comportar e encarar a vida.
Pais e mães às vezes não sabem ou agem
inconscientemente, mas é comum ter um filho em que tenham mais afinidade e
gostos parecidos. Para a experiente psicóloga americana Ellen Libby, as
preferências existem. Afinal, ter predileção por algum dos filhos
e favorecê-lo é mito ou verdade?
Há
psicólogos e psicanalistas que afirmam que esta preferência exista, embora
muitas famílias neguem. Por outro lado, há quem explique que não é possível
generalizar o assunto.
Para
a especialista em comportamento humano, Roselake Leiros, o assunto é mito e na
verdade o nome correto não é “preferido”, mas sim, aquele em que há mais
identificação e interesses em comum. “A grande maioria das mães tem uma
afinidade maior com algum dos filhos. É comum que entre os filhos haja um
modelo mais parecido com o da mãe, um tipo que ela se relacione com mais
tranqüilidade”, explica.
Já
para a psicóloga Gabriela Monéa a predileção entre pais e filhos pode ocorrer e
este fato é natural por diversos motivos. “Afinidades, semelhança com algum
ente querido, ser o primogênito ou o caçula, ter temperamento ou gostos iguais,
ser mais frágil ou o mais problemático ou até mesmo serem opostos podem ser
razões que levem pais a terem filhos prediletos”, afirma.
Quando
esta predileção existe, a dúvida mais comum, segundo Roselake Leiros, é como
lidar com a situação. “Algumas têm essa predileção e as declaram, outras,
porém, tentam disfarçar, mas não conseguem. Há ainda, aquelas que não têm
consciência, mas demonstram sua preferência em seus comportamentos”, afirma.
Admitir o sentimento é o primeiro passo para conviver com a situação. “É
necessário saber o que gera o excesso de cuidado e preocupação, pois a
predileção pode prejudicar a família, uma vez que um se sente sufocado,
enquanto o outro fica desprotegido”, completa.
Para
a psicóloga Gabriela, é importante que a família saiba manter o equilíbrio
entre as relações a fim de não gerar traumas nos filhos. “A mãe deve tomar
cuidado para não admitir esta predileção, assim evita-se deixar marcas nos
filhos, seja no preferido ou no que tem menos atenção. É importante manter o
equilíbrio familiar demonstrando para os filhos que todos têm espaço de acordo
com suas necessidades e características”, afirma.
E se os filhos
perceberem?
As
crianças são capazes de perceber que os pais estabelecem relações diferentes
entre eles, e apesar de notarem isso, podem não se incomodar, desde que o
tratamento dado a todos seja justo. Porém, quando a realidade é oposta o
conflito familiar pode surgir.
Para
a especialista Roselake, quando a criança percebe a diferença pode se afastar
dos pais, sentir-se rejeitado, ter ciúmes e dificuldades de relacionamento. “A
predileção significa excessos para um lado e falta do outro, isto é,
desigualdade. A parte preterida vai sentir ciúmes e isso pode gerar uma
verdadeira inimizade entre os irmãos, que na maioria das vezes brigam muito”,
afirma. Para a especialista, tanto o preferido quanto o rejeitado podem
desenvolver sentimentos negativos. “A parte desprezada pode criar sentimentos
de rejeição e esta dor vai gerar comportamentos inadequados que também vão
interferir no seu desenvolvimento e felicidade”, completa.
O
filho predileto, por sua vez, além de muitas vezes não crescer e amadurecer
naturalmente, se sente sufocado e alvo de gozações como o “filhinho da mamãe”.
“O ciúme da mãe provoca grandes conflitos nas suas outras relações”, explica
Roselake. Para a especialista, se os pais não tiverem condições de entender a
questão, admiti-la e modificá-la por si mesmo é preciso buscar ajuda de um
profissional.
Na
opinião de Gabriela, geralmente os pais têm dificuldade em assumir a predileção
por se sentirem culpados. “É comum eles acreditarem que amam mais um filho do
que o outro. No entanto, uma pessoa é diferente da outra, assim como os pais,
os amigos e os parentes, não seria diferente com os filhos. Por isso, é natural
ter mais afinidades com um do que com outro”, conclui.
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